Tenho ouvido alguns políticos que, quais papagaios, têm repetido vezes sem conta a história do Primeiro Ministro ter “decretado o fim da crise” - como eles gostam de dizer para parecerem espertos - na véspera de ser anunciado o maior número de desempregados desde há não sei quantos anos. E fazem-no numa tentativa de passar a mensagem de que o homem e o seu governo querem enganar o povo dizendo aquilo quando se verifica isto.
Ora, quem usa deste discurso ou é pouco inteligente ou é pouco sério, duas características que eu consideraria fundamentais para ocupar uma posição relevante pública ou privada.
É que tentar fazer este tipo de raciocínio demagógico não ajuda em nada o país e os tais não sei quantos mil desempregados. Mas é bem capaz de trazer alguns votos. Política, a quanto obrigas!
Para os mais impressionáveis pelos discursos dos papagaios, passo a explicar, tentando ser claro e objectivo.
- Com maior ou menor intensidade (os analistas e comentadores que se entretenham a discutir isso), é certo que o colapso do sistema financeiro, conforme o conhecíamos até hoje, e a crise mundial instalado afectou também a economia portuguesa. Ou seja, era inevitável, qualquer que fosse a pessoa e a cor política no poder.
- Vários lideres mundiais, analistas, consultoras e toda essa panóplia de gente que se ocupa de escrever profecias auto-realizadoras já fizeram saber que acreditam que a crise atingiu o seu máximo ou, por outras palavras, que a economia está a começar a recuperar. Não, o Sócrates não foi o primeiro.
- É normal, aliás é mesmo óbvio, que a economia e o emprego demoraram e demorarão a reagir ao “fim da crise” (a mim, cheira-me que muito mais do se espera, mas eu não sou analista nem consultor). Parece-me lógico e evidente que se a crise acabou “ontem”, os empregos não aparecem todos “hoje”. Aliás, é bem possível que “amanhã” ainda haja alguns despedimentos por efeitos da crise. Há um lag temporal de causa-efeito.
- Por isso, dizer que “a crise acabou” quando o desemprego atinge o seu máximo não é, de todo, uma contradição ou uma afirmação menos séria ou enganadora. Se acabou é porque atingiu o seu máximo. É pois natural que desemprego também.
Fui claro?